Desde a última sexta-feira, dia 18, o Chile vive uma onda de protestos populares. Inicialmente pacíficos, os episódios acabaram por gerar atos violentos. Os estudantes começaram o movimento protestando pelo aumento de $ 30 (R$ 0,17) na tarifa do metrô. A campanha ficou conhecida com o slogan “EVADE CHILE”, convocando todos os estudantes a pular as catracas para não pagar a passagem do metrô.
Na sexta, dia 18, o movimento ganhou força e transformou a cidade de Santiago num verdadeiro caos: incendiaram dezoito estações do metrô e o prédio da ENEL (energia elétrica do Chile), fizeram barricadas em vários locais, saques em supermercados, ataques ao comércio em geral. No sábado pela manhã, o presidente Sebastián Piñera declarou estado de emergência e, à noite, toque de recolher.


Mas o que a maioria dos brasileiros não está entendendo é o seguinte:
Se o Chile é um país com uma renda per capita tão alta, qual seria o motivo da grande insatisfação que tomou tamanha proporção?
Segundo o historiador e jornalista espanhol Mário Amarás Quiles, o problema é que o Chile tem um sistema econômico e social injusto, implementado na época do presidente Pinochet, após o golpe de estado de 1973, condenando a maior parte da população chilena a uma vida precária, com aposentadorias baixas, educação mais cara da América Latina, saúde privatizada e alto custo de vida.
Para o historiador e para o povo chileno, o aumento das tarifas do metrô foi a gota d’água. A luta agora não é mais por $ 30, mas sim por trinta anos que agravaram o aumento da desigualdade social. Se por um lado houve uma redução do indicador de Gini, que mede a desigualdade de distribuição de renda, por outro lado, o Chile é o país mais desigual entre os membros da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Além disso, o Relatório da Desigualdade Global, da Escola de Economia de Paris, sustenta que “o Chile é o terceiro país do mundo que mais concentra renda no 1% mais rico.”
Podemos citar alguns exemplos em áreas especialmente sensíveis ao bem-estar social não somente do chileno, mas de uma sociedade em geral.
A AFP – sistema privado da previdência é um ponto recorrente de protestos. Esse é um tema que vem sendo discutido há muitos anos e desperta indignação na maioria dos chilenos. Afinal, a geração que passou por essa transição nos anos 90, está se aposentando recentemente.
A saúde é outro problema. Quem não tem um bom plano de saúde tem que se endividar para pagar tratamento de doenças graves.
Já a educação superior é uma das mais caras da América Latina, onde os estudantes precisam se endividar com empréstimos bancários para pagar as mensalidades. Embora tenha havido uma reforma educacional no governo anterior, o ensino superior no Chile é pago e a maioria dos estudantes não têm acesso à bolsas estudantis.
Quem já viajou para o Chile pôde perceber também o alto custo de vida por aqui. Os preços são altos, principalmente os itens básicos, como arroz (em média R$ 5/quilo), leite (R$ 4,80/litro) e pão (média de R$ 5,90/quilo).
Ou seja, ainda que a renda per capita seja considerada alta na América Latina, o custo de vida também é alto.

O saldo desta situação já soma 5 dias de protestos, 4 dias de estado de emergência, 3 dias de toque de recolher e 18 mortes. Filas nos supermercados para comprar comida, vários comércios fechados, metrô funcionando de forma parcial.
Ontem, dia 22, o presidente anunciou algumas medidas para tentar conter a crise: aumento de 20% na pensão básica, salário mínimo de $ 350 mil pesos chilenos (antes era $ 300 mil), anulou o aumento da tarifa de metrô e energia elétrica, aumentou o imposto para quem ganha mais de $ 8 milhões de pesos chilenos.

Ainda há manifestações pacíficas acontecendo em vários pontos de Santiago. Estive ontem na Plaza Ñuñoa e pude ver crianças, idosos e jovens protestando juntos.
Os protestos estão concentrados nas cidades de Santiago, Valparaíso, Temuco, Concepción.
Hoje, dia 23, os protestos continuam. O exército permanece nas ruas e está mantido o toque de recolher.
Será que essas medidas serão suficientes? Os protestos irão acabar? Estou mostrando o dia a dia nos stories do @blognosnochile.
Para quem quer saber mais sobre o assunto, seguem algumas fontes jornalísticas em português para consulta.
https://www.bbc.com/portuguese/internacional-50130830
https://brasil.elpais.com/brasil/2019/10/21/internacional/1571686744_532011.html
https://www1.folha.uol.com.br/mundo/2019/10/apesar-de-avanco-economico-no-chile-oferta-de-servico-publico-e-limitada.shtml
https://www.nexojornal.com.br/podcast/2019/10/22/Os-chilenos-nas-ruas.-E-o-presidente-Piñera-em-crise
Texto revisado por Bárbara Mussili, criadora do blog Refúgio Ameno.
6 comentários
Olá,
Estarei indo ao Chile no início de Dezembro/2019, como está a situação la atualmente?
Oi Daniela,
os protestos continuam, mas ainda assim dá para aproveitar a cidade, as amnhãs continuam sendo o melhor horário para passear pela cidade. Para os passeios fora de Santiago o ideal é contratar uma agência. Temos agências parceiras aqui no blog https://nosnochile.com.br/parceiros/. Tem um vídeo no canal também https://youtu.be/LuwMWbKfkoE
Um abraço!
Olá, vou para o Chile na semana entre o Natal e o Ano Novo, 26 a 01 de janeiro… até lá será que tudo já está de volta ao normal?
Oi Ana Carolina,
Espero, de verdade, que sim!
Um abraço!
Obrigado Rosi pelos noticiários. Adiei minhã viagem ao Chile para Janeiro. Até lá espero que tudo esteja normalizado. Obrigado.
Oi Zenito,
com certeza estará sim!
Um abraço!