O Museo de la Memoria y los Derechos Humanos é uma edificação moderna e bonita, talvez para dar uma leveza ao tema tratado, afinal, é o mais triste e emocionante que já visitei.
Segundo a página oficial, o espaço é destinado a dar visibilidade às violações dos direitos humanos, cometidas pelo Estado Chileno no período entre os anos de 1973 e 1990.
Porém, logo na entrada, um grande painel fotográfico formando o mapa mundial também chama atenção para atos deste tipo ocorridos no mundo inteiro, inclusive no Brasil, fazendo menção às respectivas comissões constituídas para apuração da verdade. É o primeiro setor chamado “Derechos Humanos, desafío universal”.
A inauguração do Museo de la Memoria y los Derechos Humanos foi em 2010 pela então presidente do país, Michelle Bachelet.
Através de vídeos, fotos, documentos oficiais, materiais jornalísticos e registros pessoais, conta-se a história de um período recente.
Além disso, o objetivo é abrir um debate para reflexão sobre o respeito aos direitos humanos.
A exposição permanente ocupa dois andares do edifício.
Museo de la Memoria y los Derechos Humanos: 1º andar
No primeiro, um dos setores, “11 de Septiembre”, mostra os acontecimentos logo após o golpe militar e é possível assistir ao vídeo do bombardeio ao Palacio de La Moneda e ouvir o último discurso do presidente Salvador Allende.
Já em outro setor, também podemos ler cartas de pessoas detidas pelo regime aos seus familiares, antes de desaparecerem ou serem executadas.
Museo de la Memoria y los Derechos Humanos: 2º andar
No segundo andar, entre outros setores, está o setor “Demanda de verdad y justicia”, com um espaço onde se representa o memorial aos que perderam suas vidas ou desapareceram.
Desse lugar impactante, tem-se a dimensão da quantidade de vítimas da repressão ao regime imposto.
Muitos depoimentos do acervo me emocionaram.
Um deles, no setor dedicado a mostrar a dor das crianças, me tocou em especial: uma carta escrita por uma criança para a senhora Lucia Hiriat, esposa do General Augusto Pinochet que ocupou o governo neste período.
Na carta, ela perguntava onde estavam seus avós, porque estava chegando o dia dos avós e ela queria dar um abraço neles. Enfim, é um lugar repleto de emoções, tem que estar preparado!
Além disso, o Museo de la Memoria y los Derechos Humanos também conta com exposições temporárias em espaço reservado no terceiro andar. E tem ainda um centro de documentação e história, onde constam os demais registros organizados e disponíveis para consulta.
Curiosidades sobre o Museo de la Memoria y los Derechos Humanos:
O projeto arquitetônico do museu foi idealizado através de um concurso nacional e internacional, que selecionou o trabalho de uma equipe de arquitetos de São Paulo, integrado por Mario Figueiroa, Lucas Fehr e Carlos Dias.
O Palacio de La Moneda, sede do governo chileno, é um dos lugares mais visitados pelos turistas brasileiros. O interesse se deve à sua importância como prédio histórico, ao seu centro cultural, à sua localização no centro de Santiago e à tradicional troca de guarda.
Mas nem todo mundo sabe a história que esse local guarda.
Em 11 de setembro de 1973, o palácio foi bombardeado pelo Exército em um episódio que culminou com a morte do presidente Salvador Allende e a instauração de uma ditadura que só terminou em 1990, após a votação de um plesbicito por uma reforma constitucional e o retorno à democracia.
O Museo de la Memoria y los Derechos Humanos é um local que conta esta história e, sobretudo, dignifica as pessoas que foram vítimas de tortura, desapareceram ou perderam suas vidas porque se manifestaram contra o regime.
Obviamente que lugares como este museu ou o Coliseu de Roma ou Auschwitz emocionam o turista-viajante.
Mas por que é importante conhecer lugares como esses? Porque eles reservam mais que turismo. Reservam história.
DICA: 3 livros sobre a história da ditadura no Chile
Para tornar essa experiência mais interessante, as dicas da vez são de literatura: três livros de escritores chilenos para conhecer este período da história chilena:
1. A casa dos espíritos – Isabel Allende
Isabel quase dispensa apresentações, mas não, ela não é filha de Salvador Allende. Seu pai era primo dele.
A escritora era jornalista no Chile quando aconteceu o golpe e se auto-exilou na Venezuela quando começou a ditadura. De lá, em 1982, publicou este romance sobre várias gerações da Família Trueba, passando por acontecimentos baseados nos fatos reais deste episódio da história.
O livro é best-seller internacional e já rendeu até um filme com Meryl Streep., mas a escrita de Allende emociona e seus personagens são apaixonantes.
2. Formas de voltar para casa – Alejandro Zambra
Zambra era uma criança quando a ditadura chegou aos seus últimos anos. Mesmo assim, marcou sua vida e seu relacionamento familiar.
A abordagem do autor mostra que nem todos se afetavam da mesma forma com o que acontecia na época.
Zambra é menos conhecido que Allende no Brasil, mas é um representante de peso da literatura contemporânea chilena. Seu livro foi traduzido para o português em 2014. São memórias com uma narrativa elaborada e comovente.
3. La dimensión desconocida – Nona Fernández
Agora, esta dica vai para quem quer treinar o espanhol.
Infelizmente Nona ainda não tem tradução para o português, mas sua obra, de 2016, ganhou o prêmio latino-americano Sor Juana Inez de la Cruz.
Nona faz uma relação da sua adolescência com a ditadura. Já adulta, ela investiga um fato verídico, de um agente secreto que confessa sua participação em casos de torturas.
Visitando o próprio Museo de la Memoria, reconstrói algumas histórias e descobre essa dimensão desconhecida, fazendo referência à serie de televisão The Twilight Zone.
Trata-se de uma narrativa muito inteligente e que permite ao leitor reconhecer vários locais e elementos atuais no romance.
Como chegar:
Endereço: Matucana 501, Quinta Normal, Santiago
O Museo de la Memoria y los Derechos Humanos está localizado em frente ao Parque Quinta Normal, onde estão outros lindos museus.
Além de ser fácil de chegar, dá para ir de metrô (estação Quinta Normal – Linha 5 – Verde).
Horários: de terça a domingo, das 10 às 18h. Nos meses de janeiro e fevereiro, das 10 às 20h.
Fechado: Todas às segundas-feiras e nos seguintes feriados: 1º de janeiro, 1º de maio, 18 e 19 de setembro e 25 de dezembro.
Entrada gratuita
por fim, saiba que o Museu disponibiliza um audioguia em português, um aparelho parecido com um telefone celular, com o qual o visitante pode ir escutando as explicações ao percorrer o museu. Custo: $2.000.
Quer saber mais sobre museus no Chile?
Aqui neste post comento sobre o Museo Chileno de Arte Precolombino e aqui sobre o Museo de Bellas Artes.
Também tem post para quem viaja com crianças, clique aqui para conhecer um pouco do imperdível Museo Interactivo Mirador, além de outras atrações.