Como eu larguei tudo em Belo Horizonte para vir morar no Chile

Já são 9 anos de Chile.

Muito tempo para quem veio morar apenas um.

Mas como tudo aconteceu? Como deixamos Belo Horizonte para vir morar no Chile?

Meu marido Flávio sempre trabalhou em projetos viajando pelo Brasil inteiro. Ele conhece todas as capitais do país. Eu o acompanhei em algumas: Rio de Janeiro, São Paulo, Fortaleza e Brasília. Mas nossa surpresa veio quando, no início de 2013, ele recebeu uma proposta para um projeto no Chile. Como era um ano apenas, decidimos que ele iria sozinho. Eu fiquei em Belo Horizonte com nossos filhos. Arthur tinha 12 anos e Yasmim, 8. Não foi um ano fácil. Eu trabalhava com organização de eventos. Sou Relações Públicas com especialização em cerimonial. Quem é da área sabe que o organizador é o primeiro a chegar e o último a sair do evento. Comigo não era diferente. Minha dificuldade era que eu tinha dois filhos me esperando em casa e um marido morando no Chile. Não tinha com quem dividir as tarefas já que minha mãe morava em outra cidade.

O dia a dia era bastante complicado, sem contar a dificuldade de conviver com a saudade. Flávio ia ao Brasil a cada três meses. Os filhos sentiam a falta dele e eu também. Foi realmente um ano complicado, mas nós vencemos! Sei que para o Flávio também não foi fácil morar em outro país sem a família.

 

Como foi nossa mudança para o Chile?

No final de 2013, Flávio recebeu a notícia de que seu contrato no Chile seria renovado por mais um ano. Então, decidimos ir todos. Era a oportunidade de estarmos juntos, já que nos anos anteriores o Flávio já trabalhava no Rio e eu, em BH.

Frio na barriga.

Medo do novo.

Outra língua.

Outro país.

Distância da família, mas a oportunidade de estar juntos nos enchia de esperança.

Passamos o mês de dezembro de 2013 planejando a mudança, preparando a documentação de transferência de colégio e eu pedindo as contas no meu trabalho. Será que estava fazendo a coisa certa? O medo de não saber se era a melhor decisão sempre rondava meu pensamento, mas a certeza de sermos felizes juntos era maior.

Em fevereiro de 2014, eu, Arthur e Yasmim desembarcamos em Santiago cheios de esperanças, sabendo pouco sobre o país e sem saber falar nada de espanhol. Um novo desafio.

Com o tempo fui vendo que a língua era a menor dificuldade. Apesar de termos sido bem recebidos pelos chilenos, a cultura era o que travava a gente toda hora. Sempre digo: viver em outro país é como viver de favor numa casa que não é a sua. Sempre ensinamos para nossos filhos: se no Brasil já fazíamos tudo certo, no Chile devemos fazer mais ainda, já que não é a nossa casa.

Me lembro dos nossos primeiros dias no Chile. Tudo era lindo e diferente. Observamos todos os detalhes e sempre fazíamos comparações. Esse foi um dos nossos erros na adaptação. Cada lugar é único e comparar não ajuda em nada.

O primeiro dia de aula dos filhos aqui no Chile

Um dos piores momentos foi conseguir colégios para os meninos. O ano letivo só começaria em março. Batemos de porta em porta e tudo fechado. O medo e ansiedade foi tomando conta da gente porque ainda não sabíamos onde estudariam, mas tínhamos esperança. Na última semana de fevereiro, conseguimos que um colégio aceitasse que eles fizessem a prova de seleção pois, no Chile, o processo seletivo acontece com um ano de antecedência. Eles passaram e definimos o colégio. Ufa!!! Um problema a menos? Inocentes… As dificuldades estavam só começando. Lista de material, uniformes formal e comum, livros, colégio integral, levar almoço… quanta novidade!

Nunca vou me esquecer o dia que saímos para comprar a lista de material. Não entendia nada, uma loja enorme, lotada e que não tinha ninguém para nos orientar. Não sabia nada de espanhol, nomes totalmente diferentes. O que deveria durar uma hora, durou quase cinco e ainda compramos várias coisas erradas. Hoje, o episódio nos rende boas risadas.

Chorei quando deixei as crianças no primeiro dia de aula (na época ainda eram crianças). Yasmim tinha 9 anos e Arthur, 14. Deixá-los num lugar estranho, com pessoa estranhas, sem saber falar nada da língua e ainda o dia todo. Me bateu desespero e voltei pra casa em prantos. Em Belo Horizonte era tão seguro, já conhecíamos todos no colégio. O que eu estou fazendo aqui? Essa pergunta sempre surgia.

Essas são dificuldades que se enfrentam e ninguém vê quando se vai morar em outro país.

Primeiro dia de aula

Fiquei ansiosa o dia todo, esperando o horário da saída para olhar de novo para carinha deles e saber de todas as novidades. Estavam cansados porque ficavam o tempo todo tentando entender o que o professor falava. Tudo em vão! Não entendiam nada. Nem os professores, nem os colegas de classe. Estranhos no ninho.

Foi depois da segunda semana que eles começaram a entender o que o professor falava, mas, na quarta semana, já era período de prova.

Para minha surpresa, o Arthur tirou um 6.9 na prova de história valendo 7 (aqui no Chile todas as avaliações valem 7 pontos). E eu perguntei: como assim meu filho, como você aprendeu a escrever tudo isso? Yasmim teve um pouco mais de dificuldade, mas com o tempo foi se adaptando.

Com os filhos no colégio, marido no trabalho, era hora de cuidar de mim. Fui fazer um curso de espanhol na Universidad de Chile. Foi ótimo, conheci pessoas do mundo todo, já que era um curso para estrangeiros, dentre elas, a minha amigona até hoje, a brasileira Bárbara Mussili e muitas outras amigas.

Como nasceu o Nós no Chile?

Fui aprendendo tantas novidades sobre o país que comecei a escrever algumas curiosidades do Chile no Facebook, (naquela época acho que nem existia Instagram) e vi que despertava a atenção das pessoas. Como uma forma de me reinventar, criei o Blog Nós no Chile. No começo era algo bem caseiro, feito unicamente por mim, mesmo sem nenhuma expertise na área. Quando tive quinhentos acessos num só dia, pensei: opa! Esse negócio pode crescer e melhorar. E imagina que hoje, em alta temporada já chegamos a 35.000 acessos num dia.

Comecei a dedicar mais tempo, pesquisar, ler e aprender mais sobre como fazer um blog, além das aulas de espanhol na Universidad de Chile.

Mas o que mais me incentivou foi eu poder ter a minha independência financeira. Você já ouviu a minha história do raminho?

Com o tempo nossos passeios e viagens serviam de inspiração para o blog. As visualizações foram crescendo, os filhos se adaptando ao colégio, o marido feliz no trabalho. Tudo parecia perfeito, mas a saudade do Brasil sempre estava presente. Dia de aniversário, de comemorar alguma vitória, os domingos em família, os amigos brasileiros, a gente já não tinha isso. Ganhamos outras coisas, aprendemos o espanhol, superamos nossos medos, enfrentamos as dificuldades, crescemos!

Hoje somos muito maiores que éramos antes porque saímos da nossa zona de conforto. Juntos somos mais fortes. Morar em outro país não é fácil, não são só vitórias, não é sinônimo de riqueza, como muitos pensam. É adaptação diária, é aprender a conviver com a saudade, é saber respeitar e viver uma cultura diferente da sua e aceitar as regras, mesmo sem concordar com elas. Mesmo lendo tudo isso, você só vai conseguir me entender 100% se tiver morado fora alguma vez.

A única coisa que eu tenho certeza é que mesmo morando aqui há neve anos, continuo com meu olhar de turista para contar tudo pra você no Nós no Chile, com muita dedicação e amor, sempre querendo te inspirar a conhecer esse país tão diverso.

Quando vamos voltar para o Brasil? Não sei. Mas tenho a certeza de quero voltar para um lugar que posso chamar de meu.

Flávio continua no emprego que nos trouxe aqui, aliás, ele é o culpado de tudo isso. Arthur, 22 anos, entrou para Universidade Católica, está cursando engenharia. Yasmim, 17 anos, está no quarto ano médio, quase concluindo o ensino médio e eu feliz da vida com o sucesso do Nós no Chile, que se tornou o blog mais lido pelos brasileiros que querem conhecer esse país lindo.

Reinvenção é minha palavra para esses oito anos de Chile.

Oportunidade de viver com a família é a frase do Flávio.

Saudade do Brasil é a frase da Yasmim.

Adaptação e descobertas é a frase do Arthur.

Escrevi esse texto há três anos e hoje estou publicando aqui com algumas pequenas atualizações .

É fácil morar em outro país? Saiba neste aqui aqui.

Nossa história está contada também neste vídeo

 

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Comentários

  1. Me emocionei lendo a sua história. Morei no Chile dos meus 14 a 16 anos. foi muito difícil, eu era uma adolescente rebelde e fui contrariada rs, estão o que já era difícil, se tornou ainda mais. Só quem vive uma imigração entende. Mas no final, foi a melhor e mais transformadora experiência que já vivi na vida! Me transformou muito e sou muito grata pela oportunidade. Carrego comigo “marcas Chilenas” eternas. Depois de 15 anos de volta ao Brasil, a duas semanas atrás tive a oportunidade de retornar ao Chile, mas dessa vez a passeio com meu marido, foi incrível (segui todas as suas dicas e li o seu blog inteiro) e muito nostálgico. Ah! Eu tbm sou de BH. Hoje, eu vivo em BH (já morei em outras cidades do Brasil por 6 anos) e nao pretendo nunca mais sair daqui, é a minha casa e não quero mais a sensação de “será que ficarei aqui pra sempre?” ou “Sinto que aqui n é a minha casa”. Estou a 3 meses de volta a BH e enfim me sinto em paz. Te desejo tudo de bom! Uma vida muito feliz independente de onde estiver!

    1. Oi Fernanda,
      muito obrigada pelas sua palavras e seu carinho.
      Um dia eu também pretendo voltar para “a minha casa”
      Um grande abraço !

  2. Estive em Santiago na semana das festas patrias agora de 2023, e foi amor a primeira vista, que lugar incrivel.
    Moro em Sampa e, apesar de todos os problemas, sempre vai ser o meu lugar no mundo…Mas Santiago muito provavelmente vai ser uns dos mais bem colocados para mim.
    Pretendo em 1 ou 2 anos no maximo ir morar fora do país, provavelmente na europa, mas ja coloquei o Chile como uma possibilidade bem concreta, pelo menos por 1 ou 2 anos, de morar.

  3. Tive no chile no mês de agosto de 2023,achei estranho que muita gente faz refeições tipo:KFC,MCDONALD’S, SUBWAY, ITALIANO COMPLETO ETC,no chile tem cozinha com geladeira e fogão?beijos

    1. Oi Rute,
      Aqui no Chile tem cozinha com fogão e geladeira sim, porém almoçar fora é muito caro e muitas pessoas acabam optando por sanduíches por ser mais barato.

  4. Parabéns Rose, por todo esse sucesso, tanto profissional quanto familiar. Amo suas dicas e só me motiva a ir conhecer o Chile.

    1. Oi Débora,
      Muito obrigada pelo carinho. Venha sim conhecer o Chile, pois é um país incrível.
      Um abraço !